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seis horas

seis horas da tarde, sexta-feira, a escola toda em quietude. hora de ir cuidando dos detalhes: carregar a pirâmide pra um lugar coberto, fechar uma porta que ficou aberta, apagar alguma luz que esqueceram acesa, guardar a garrafinha perdida no quintal. vou andando pela escola vazia e pensando em tudo que aconteceu ali nas últimas horas de um dia bem cheio. as brincadeiras no quintal, as estudantes de pedagogia que vieram fazer pesquisa; as aulas de música sobre diferentes etnias indígenas, a criança nova que estava indo pra escola pela primeira vez, o menino que pediu minha ajuda pra aprender a descer pelo “cano do bombeiro”, as comidinhas feitas de lama e folha, as bocas sujas de feijão e as barrigas cheias. também os conflitos e brigas, os “é meu”, “não gosteeei!”, “não me empurra!”; os convidados do creas que foram conversar sobre diversidade, gênero e respeito; o pequeno que passou mal, a reunião que precisou ser remarcada, a impressora que não funcionou, os abraços compartilhados, as gargalhadas sem fim... cada dia aqui é infinito, parece, porque cabem coisas que a gente nem imagina. vou andando pela escola quieta, vazia, e achando bonito esse tanto de coisa, pequena e grande, que compõe o emaranhado do dia a dia.

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Fiando junto

tem vezes que a vida parece um novelo de lã embaraçado, todo enrolado. cores misturadas, fios que começam sabe-se lá onde, e que parecem não ter fim. vez ou outra, ao ver a bagunça toda, dá vontade de arrumar. organizar, desembaraçar, tentar pelo menos saber quais lãs tão ali no meio. é uma tarefa delicada, que exige paciência. desenrola de um lado, mas enrola do outro; tenta achar o fio da meada, mas ops, perde de novo. e aí vem uma "fiadora". ela que segura o novelo enquanto eu desenrolo, olhando fundo no meu olho, sem recuar, me lembrando também da beleza que existe no caos. e vamos assim, fiando juntas as tramas e bagunças dessa vida que é tanta.

Aprendendo thai - lição 1

Aprender tailandês é uma aventura sem fim - eles têm mil letras diferentes pra um mesmo som, regras sem pé na cabeça, significados distintos (às vezes MUITO distintos) para palavras idênticas, mas com tons diferentes, e um alfabeto desenhadinho que dá a maior trabalheira pra aprender. Mas é uma língua muito poética, simples à sua maneira, e que revela muito do jeito de ser e pensar do seu povo. Quer ver? ใจ(djai) significa literalmente coração, e tem milhões de usos e significados. Por exemplo: Se você entende alguma coisa, você fala que เข้าใจ (khaw djai). เข้า (khaw) é entrar, ou seja: entender é entrar no coração . Tá triste? เสียใจ (sia djai) - เสีย (sia) significa estragar, estragado. Tristeza, então, é um coração que precisa ir pro conserto. E é assim com tudo: confuso é quem troca de coração (plian djai - เปลี่ยนใจ); benevolente tem o coração bom (dii djai - ดีใจ ); aliviado é quem tem o coração desobstruído, livre (glong djai - คล่องใจ); agonia é ter o coração pequeno (nói dja

Parto da Clarice

escrevi esse relato há dois meses, mas só agora deu vontade de compartilhar por aqui. então... senta que lá vem história. O parto é uma aventura, e uma experiência. Experiência é uma palavra que usei muito nos últimos meses, ficou impressa várias vezes no meu outro parto, da dissertação. Eu falo que experiência é uma coisa que atravessa a gente, e cujo desfecho é necessariamente inesperado. Na sua raiz, experiência traz a origem, o inesperado e o perigo. Assim foi o parto da Clarice. Todas as outras vezes que comecei a escrever esse relato (e foram algumas), eu me detive na ordem das coisas, e nos números: quantos cm de dilatação, qual o intervalo das contrações, que horas eram, qual a sequência dos fatos. E o relato ficava ali, travado e parado. Eu querendo justificar, mensurar, explicar o que na verdade não tem explicação nenhuma. Então eu desapeguei. Me entreguei, como tenho tentado fazer todos os dias dos últimos quatro meses. Como tentei também durante a gravidez, como acho