Pular para o conteúdo principal

Free School 6 - projetos

Quem anda pela Free School pode duvidar que ali funciona uma escola, ainda mais se a sua visão de escola for aquela bem antiga. Não tem salas todas iguaizinhas, não tem sinal, não tem recreio, não tem um currículo igual pra todo mundo, não tem turmas separadinhas, não tem nota nem prova. Tem crianças dando cambalhotas, outras tocando violão e outras lendo um livro, tão concentradas que se tem a sensação de que elas estão mesmo em outro mundo. Crianças de várias idades entram e saem do parquinho, a hora que querem. Algumas sobem para ajudar a fazer o almoço, uma mais velha pode ir ler um livro para os mais novos. A escola não pára.

E tem alguns projetos, ou eventos, que ajudam essa movimentação toda:

* Field trips
As excursões são parte importante da escola, e todo ano as turmas escolhem um lugar pra ir. A organização fica toda por conta das crianças: elas decidem onde querem ir, pesquisam sobre o lugar, calculam os gastos, pensam em formas de arrecadar dinheiro, entram em contato com as pessoas... ano passado o Junior High foi para Porto Rico (depoimento do Bhawin: "não me pergunte como conseguimos isso, até agora não sei"), e esse ano eles vão para Nova York, participar inclusive da Conferência de Escolas Democráticas que vai ter lá. O Bhawin disse que esse ano os alunos não estavam tão engajados, mesmo antes de decidir o lugar, mas que volta e meia ele via eles conversando entre si e um animando o outro a ir e se envolver. Eles também organizam outras excursões para museus, peças e lugares por perto.

* Kids Inquiry Conference (KIC)
é como se fosse uma feira de ciências. As crianças escolhem um tema que tenham curiosidade, ou uma pergunta que queiram responder, e pesquisam, fazem experimentos e depois apresentam para a escola toda. A Megan, de 11 anos, me mostrou o trabalho dela no KIC do ano passado. Ela queria saber se as pessoas aprendem melhor fazendo alguma coisa, ouvindo ou escrevendo. Então ela criou uma lista de palavras inventadas que significavam uma ação (sempre uma ação, ela enfatizou). Ela lia a lista para as pessoas - um grupo repetia a palavra enquanto fazia a ação; outro grupo escrevia e outro grupo só ouvia. Depois, ela pediu pras pessoas falarem as palavras que lembravam. Ela disse que ficou empatado entre fazer e ouvir como melhores formas de aprender. Ela fez a pesquisa sozinha, com ajuda dos professores, aos 10 anos.

* Virtual trip
a ideia desse projeto é envolver escola e família, e acontece todo mês. Tem uma mãe na escola, por exemplo, que é da Libéria, e esse vai ser o destino de um mês futuro. As crianças estão pesquisando sobre o país, seus costumes, cultura, comida, música, política, o que tiverem interesse. Em uma noite do mês, a mãe vai na escola e junto com professores, alunos e outros pais, fazem comidas típicas. As crianças apresentam tudo que pesquisaram, a mãe fala também sobre o país e depois eles fazem um jogo de perguntas pra ver o que aprenderam (como se fosse aqueles jogos de quizz - ideia das crianças). Algumas vezes eles fazem passaporte, visto, passagens, e é tudo divulgado nas paredes. Eu adorei essa ideia: junta a família com sua cultura, envolve os alunos, é oportunidade de pesquisa, de dividirem refeições... super combo, eu achei.

(bandeiras da Libéria; foto da Nya, 5 anos)

* Outdoors
alguns anos atrás, um indígena deu uma área de presente pra escola, um santuário ecológico. Toda quinta-feira as crianças que têm interesse vão pra lá e fazem diversas atividades ao ar livre.

* Peças, filmes, música
Pelo que vi, toda hora pode ser hora de produzir uma peça, filme ou apresentação musical. Nos meus dois dias de visita, vi a lista de personagens e enredo de uma peça, com crianças de diferentes idades, em uma trama cheia de drama. Cinco meninas da mesma idade estavam fazendo um vídeo, acho que sobre escola - quando entrei na sala, uma delas estava em pé, dando aula em um quadro imaginário, e as outras três estavam com livros abertos na mesa e cara de tédio, enquanto uma filmava no celular. Além disso, vi um cd gravado por duas meninas e o professor de música, e elas cantaram a música pra mim (letra e música delas mesmas, muito legal!). Vi uma aula de ukulele e também um ensaio de coral. Os ukuleles e o coral vão se apresentar em algumas semanas; a peça e o filme acho que ainda não têm fata definida.

E, além disso, tem as aulas. Matemática, inglês, história, estudos sociais e "bolas de gude e rampa", que na verdade é física. A esposa do Bhawin, que é doula, vai algumas vezes por semana e dá aula de ciências da vida e biologia. O Mike contou de um ano em que as crianças estavam interessadas em mitologia grega, e aí alguém achou um amigo do amigo do vizinho que sabia muito do assunto, e ele foi dar algumas aulas também, pra quem quisesse.

E aí a gente vê que com liberdade se aprende, e muito.

(a escola não tem um currículo programado, que as crianças são obrigadas a seguir. Eu perguntei como era a adaptação depois que elas saíam da Free School, seja porque quiseram/mudaram ou pro Ensino Médio. O Bhawin falou que a adaptação geralmente é ótima, principalmente academicamente. Disse que muitos alunos reclamam que na escola pública os professores não os respeitam, ou que eles não podem decidir nada, mas que não têm problemas com contéudos e afins. Ouvi também duas histórias de ex-alunos da Free School que acharam a escola pública muito opressiva e terminaram os créditos em um community college, entrando depois em uma faculdade.)

E calma que ainda não acabou...


quer saber do começo? chega mais.

Comentários

Felipe disse…
Tali,

to amando esse relato!

tá uma delicia seguir dia a dia e ver como tudo se desenvolve! posso imaginar e tudo!

continua tudo que tá uma delicia ler e descobri que sim, outro sistema educativo é possivel!

eu tambem fiquei me perguntando (num post lá atras.. quando vc mencionou o tdah) como eles resolveriam conflitos e comportamentos abusivos.. vi que tem a assembleia, mas ainda fiquei na duvida como eles realmente implementan e se nao conseguem resolver isso na assembleia. O que rola? conversinha, castigo, notinha na agenda, reuniao com os pais, piscopedagogo, expulsao?

enfim... fica a reflexao!

obrigado por essa "virtual trip"!

fiquei com vontade!

beijao
Nathália disse…
lipe, amei seu comentário e a pergunta! vou começar a sessão "cartinhas dos leitores"! hahaha

no próximo post eu respondo essa pergunta dos comportamentos! :)

aiquedelícia compartilhar com vc! amo.

beijo!

Postagens mais visitadas deste blog

Fiando junto

tem vezes que a vida parece um novelo de lã embaraçado, todo enrolado. cores misturadas, fios que começam sabe-se lá onde, e que parecem não ter fim. vez ou outra, ao ver a bagunça toda, dá vontade de arrumar. organizar, desembaraçar, tentar pelo menos saber quais lãs tão ali no meio. é uma tarefa delicada, que exige paciência. desenrola de um lado, mas enrola do outro; tenta achar o fio da meada, mas ops, perde de novo. e aí vem uma "fiadora". ela que segura o novelo enquanto eu desenrolo, olhando fundo no meu olho, sem recuar, me lembrando também da beleza que existe no caos. e vamos assim, fiando juntas as tramas e bagunças dessa vida que é tanta.

Parto da Elisa

41 semanas completas. Tinham sido 3 dias de contrações que iam e vinham, acupuntura, chás, caminhadas, tampão mucoso saindo... e nada de bebê. Encasquetei que eu precisava comprar uma cesta pequena de vime pra guardar qualquer coisa, virou imprescindível. Fomos então atrás, e tudo que eu pegava na loja gerava um questionamento do marcel. Enquanto isso, na escola, toda uma vida acontecendo, e ao invés de ter ido eu tava ali sendo temperada na ansiedade sem fim. Desisti de todas as compras e chorando falei que só queria ir pra casa. Minha vontade era de entrar numa toca, ficar quieta. Mas tinha que fazer ecografia e cardiotoco, então fomos pra maternidade. “acho que a bebê tava dormindo, vamos precisar repetir o exame porque ela não mexeu”. Tomei glicose na veia, já em frangalhos, e fiz o exame chorando. Será que estava tudo bem? Dessa vez ela mexeu, a ecografia tava ótima e mesmo assim o médico plantonista falou que 41 semanas era pra já nascer, que mesmo o bebê bem começava a ficar arr...

Inverno

Esse ano o inverno caprichou, viu?! Eu achava que não podia ser pior do que o ano passado, mas... pode. Comecinho de abril, todo mundo já pronto para o calor ficar de vez (que o digam os shorts, saias e sandálias que saíram desfilando na quinta-feira!), uma população inteira cansada de frio e mais frio. Aí me vem um sábado com sensação térmica de -4 graus, chuva e um pouquinho de neve, e um vento que peloamordedeus... Tá bom, inverno. Você provou seu ponto, já temos quase 6 meses de convivência, você ganhou etc etc. A primavera pode chegar agora??? ^^