A inspiração tirou umas férias, e não me convidou. Mas agora parece estar de volta, então vou aproveitar e começar a terminar de contar sobre a Free School. Pra começar bem, vamos falar de comida.
No email confirmando minha visita, o Bhawin já me falou que eles ofereciam almoço e café da manhã para os visitantes, e que as refeições eram um dos destaques da escola.
Não me levem a mal, mas em todas as escolas que trabalhei, as refeições eram um dos momentos menos esperados do dia. Hora do almoço significava todas as crianças, com fome e com pressa, arrumando seus lugares na mesa, ou na fila para serem servidos; significava muita comida no chão, recusa em comer o que tinha (tanto faz se era a comida que a escola dava, ou que os pais mandavam), negociação das professoras para comer só mais um pouquinho e muitos lembretes de que quem não come tudo não ganha sobremesa (na escola montessori não). Significava também ser um pouco ninja e anotar o que cada criança comeu, e quanto, além da transição para escovar os dentes (só no Brasil, mas aí já é outro post) e a mais-temida-ainda hora da soneca.
{Divaguei um pouco aqui, mas é só pra contextualizar por que foi um pouco surpreendente a hora das refeições ser tão esperada assim.}
Chegando na Free School, o café da manhã pareceu "fácil". Tinham poucas crianças, muitos professores e a bagunça nem era assim tão grande. Queria ver mesmo a hora do almoço. E aí... é mesmo muito legal.
A Deirdre, cozinheira, prepara toda a comida, com a ajuda das crianças que querem. Não é obrigatório, mas todo dia tem alguém ajudando a cortar, lavar, cozinhar, mexer ou provar. Na primavera e no verão eles pegam ingredientes frescos da horta que têm no quintal, e baseiam as escolhas do cardápio com o que está ali à disposição. A escola ganha uma ajuda do governo para bancar as refeições, e têm que detalhar sempre o que foi servido.
No primeiro dia em que eu estava lá, o almoço foi macarrão com vários tipos de molho, salada e frutas. No segundo dia, pizza de diferentes sabores e salada também. As crianças se revezam nas tarefas de montar as mesas, levar a comida para a mesa que serve de apoio, ajudar a servir as crianças da pré-escola e, depois, varrer, desmontar mesas e limpar tudo.
Toda a escola almoça junta, no andar de cima. Professores, crianças, voluntários, visitantes, todos sentam às mesas juntos. Uma das regras da escola é que ninguém pode pegar a comida e ir sentar em outro lugar, e todos têm que ficar pelo menos 15 minutos almoçando. A hora do almoço é um momento de descontração, conversa, descanso, de união. Compartilhar a comida, assim como dividir o seu preparo, arrumação e limpeza, faz com que a escola seja uma comunidade; é ali, no momento em que as crianças conversam e riem, enquanto comem, que a Free School vai além de ser uma escola. É quando uma criança de 4 anos segura a pá de lixo para um menino de 13 varrer, sem que ninguém mande ou mesmo peça, que uma comunidade de verdade toma forma, se torna real.
Comer junto, dividir as responsabilidades por tudo do almoço, sentar com pessoas que não são da sua idade ou turma, oferecer uma fruta para alguém. Isso é mais do que uma praticidade, ou uma conveniência para os pais e para os professores, ou uma prática que acontece por que sim; é um dos muitos fios que tramam a proximidade e a convivência que fazem a Free School ser o que é.
e eu não tirei foto, de novo, porque estava muito ocupada comendo. ops.
{mas depois, na pesquisa, a Sophia tirou algumas - tudo e pronto pro almoço, e o ataque faminto! ;)}
Quer saber como tudo começou? Corre aqui.
(E o próximo post vem já já).
No email confirmando minha visita, o Bhawin já me falou que eles ofereciam almoço e café da manhã para os visitantes, e que as refeições eram um dos destaques da escola.
Não me levem a mal, mas em todas as escolas que trabalhei, as refeições eram um dos momentos menos esperados do dia. Hora do almoço significava todas as crianças, com fome e com pressa, arrumando seus lugares na mesa, ou na fila para serem servidos; significava muita comida no chão, recusa em comer o que tinha (tanto faz se era a comida que a escola dava, ou que os pais mandavam), negociação das professoras para comer só mais um pouquinho e muitos lembretes de que quem não come tudo não ganha sobremesa (na escola montessori não). Significava também ser um pouco ninja e anotar o que cada criança comeu, e quanto, além da transição para escovar os dentes (só no Brasil, mas aí já é outro post) e a mais-temida-ainda hora da soneca.
{Divaguei um pouco aqui, mas é só pra contextualizar por que foi um pouco surpreendente a hora das refeições ser tão esperada assim.}
Chegando na Free School, o café da manhã pareceu "fácil". Tinham poucas crianças, muitos professores e a bagunça nem era assim tão grande. Queria ver mesmo a hora do almoço. E aí... é mesmo muito legal.
A Deirdre, cozinheira, prepara toda a comida, com a ajuda das crianças que querem. Não é obrigatório, mas todo dia tem alguém ajudando a cortar, lavar, cozinhar, mexer ou provar. Na primavera e no verão eles pegam ingredientes frescos da horta que têm no quintal, e baseiam as escolhas do cardápio com o que está ali à disposição. A escola ganha uma ajuda do governo para bancar as refeições, e têm que detalhar sempre o que foi servido.
No primeiro dia em que eu estava lá, o almoço foi macarrão com vários tipos de molho, salada e frutas. No segundo dia, pizza de diferentes sabores e salada também. As crianças se revezam nas tarefas de montar as mesas, levar a comida para a mesa que serve de apoio, ajudar a servir as crianças da pré-escola e, depois, varrer, desmontar mesas e limpar tudo.
Toda a escola almoça junta, no andar de cima. Professores, crianças, voluntários, visitantes, todos sentam às mesas juntos. Uma das regras da escola é que ninguém pode pegar a comida e ir sentar em outro lugar, e todos têm que ficar pelo menos 15 minutos almoçando. A hora do almoço é um momento de descontração, conversa, descanso, de união. Compartilhar a comida, assim como dividir o seu preparo, arrumação e limpeza, faz com que a escola seja uma comunidade; é ali, no momento em que as crianças conversam e riem, enquanto comem, que a Free School vai além de ser uma escola. É quando uma criança de 4 anos segura a pá de lixo para um menino de 13 varrer, sem que ninguém mande ou mesmo peça, que uma comunidade de verdade toma forma, se torna real.
Comer junto, dividir as responsabilidades por tudo do almoço, sentar com pessoas que não são da sua idade ou turma, oferecer uma fruta para alguém. Isso é mais do que uma praticidade, ou uma conveniência para os pais e para os professores, ou uma prática que acontece por que sim; é um dos muitos fios que tramam a proximidade e a convivência que fazem a Free School ser o que é.
e eu não tirei foto, de novo, porque estava muito ocupada comendo. ops.
{mas depois, na pesquisa, a Sophia tirou algumas - tudo e pronto pro almoço, e o ataque faminto! ;)}
Quer saber como tudo começou? Corre aqui.
(E o próximo post vem já já).
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