Nossa sessão de perguntas e respostas está ganhando muitos adeptos! Não param de chegar emails, cartas e mensagens com dúvidas e comentários sobre a Free School. Tá, mentirinha. Mas chegou uma nova pergunta, e quem quiser pode perguntar mais também.
A pergunta do dia é:
"Nath, e avaliações? Como se avalia se a criança assimilou o conteúdo adequado para idade dela? (Tipo, tem idade para aprender a ler? Aprender a fazer conta?)"
Responder essa pergunta não é muito fácil; eu poderia só falar: não tem avaliação, nem prova, nem nota. Mas acho que é preciso entender o motivo disso, e como isso representa uma outra forma de encarar a educação.
As escolas alternativas e/ou democráticas, como a Free School, não partem do pressuposto de que existe uma idade certa pra aprender um conteúdo; elas partem do interesse das crianças, e acreditam que elas podem tomar as decisões sobre a própria educação. É uma mudança grande de postura, porque exige que o professor confie nos educandos, em uma construção que leva as crianças a confiarem também nelas mesmas.
Em uma palestra que assisti outro dia, da Brooklyn Free School, o palestrante contou a história de um menino de 16 anos que sempre tinha estudado em escolas alternativas, sempre escolhendo o que queria aprender e só aprendendo o que tinha interesse. E ele nunca tinha tido interesse em álgebra, matemática. Mas aos 16 anos, decidiu que queria entrar na faculdade, e pra isso ia ter que fazer uma prova, que incluía matemática. Ele então estudou sozinho, dedicando um tempo só pra isso, e passou na prova.
A gente tem a expectativa de que ninguém lembre do que aprendeu na escola, porque nós mesmos não lembramos; também esperamos que as crianças não gostem da escola, principalmente depois da Educação Infantil. Se uma criança de 4 anos odeia a escola, por exemplo, os pais geralmente tentam resolver. Reclamam com o diretor, acham que a professora é ruim, mudam de escola, fazem o que for preciso. Mas depois disso, quando as crianças passam para o Ensino Fundamental, parece que é quase esperado que a vontade de ir pra escola passe também. E não precisa - nem poderia e deveria, na minha opinião - ser assim.
A ideia é que a educação não é um processo de homogeinização, e de empurrar conteúdos goela abaixo das crianças. A educação deveria servir como processo de construção, criação, levando em consideração que cada pessoa é única. Então, nas escolas que acreditam nisso, não tem turmas rigidamente separadas, e nem uma prova que vai medir se a criança aprendeu aquilo que o professor queria que ela aprendesse. Vão ter temas e atividades que as crianças sugerirem; vão ter crianças que escolhem o que querem aprender, e em qual ritmo; professores que não se acham donos da verdade, mas que se colocam disponíveis a aprender junto. E crianças que aprendem e lembram do que aprenderam, porque aquilo partiu delas e faz sentido para elas.
E esse processo não tem a mesma linha de chegada para todas as crianças, nem a mesma idade, nem os mesmos conteúdos. Então, não tem prova, nem nota, nem boletim, nem recuperação no fim do ano. Tem crianças que decidem, escolhem e se sentem com poder para criar a própria educação.
Querem um FAQ 3? Se joguem nos comentários - ou no facebook, emails, cartas, mensagens... ;)
A pergunta do dia é:
"Nath, e avaliações? Como se avalia se a criança assimilou o conteúdo adequado para idade dela? (Tipo, tem idade para aprender a ler? Aprender a fazer conta?)"
Responder essa pergunta não é muito fácil; eu poderia só falar: não tem avaliação, nem prova, nem nota. Mas acho que é preciso entender o motivo disso, e como isso representa uma outra forma de encarar a educação.
As escolas alternativas e/ou democráticas, como a Free School, não partem do pressuposto de que existe uma idade certa pra aprender um conteúdo; elas partem do interesse das crianças, e acreditam que elas podem tomar as decisões sobre a própria educação. É uma mudança grande de postura, porque exige que o professor confie nos educandos, em uma construção que leva as crianças a confiarem também nelas mesmas.
Em uma palestra que assisti outro dia, da Brooklyn Free School, o palestrante contou a história de um menino de 16 anos que sempre tinha estudado em escolas alternativas, sempre escolhendo o que queria aprender e só aprendendo o que tinha interesse. E ele nunca tinha tido interesse em álgebra, matemática. Mas aos 16 anos, decidiu que queria entrar na faculdade, e pra isso ia ter que fazer uma prova, que incluía matemática. Ele então estudou sozinho, dedicando um tempo só pra isso, e passou na prova.
A gente tem a expectativa de que ninguém lembre do que aprendeu na escola, porque nós mesmos não lembramos; também esperamos que as crianças não gostem da escola, principalmente depois da Educação Infantil. Se uma criança de 4 anos odeia a escola, por exemplo, os pais geralmente tentam resolver. Reclamam com o diretor, acham que a professora é ruim, mudam de escola, fazem o que for preciso. Mas depois disso, quando as crianças passam para o Ensino Fundamental, parece que é quase esperado que a vontade de ir pra escola passe também. E não precisa - nem poderia e deveria, na minha opinião - ser assim.
A ideia é que a educação não é um processo de homogeinização, e de empurrar conteúdos goela abaixo das crianças. A educação deveria servir como processo de construção, criação, levando em consideração que cada pessoa é única. Então, nas escolas que acreditam nisso, não tem turmas rigidamente separadas, e nem uma prova que vai medir se a criança aprendeu aquilo que o professor queria que ela aprendesse. Vão ter temas e atividades que as crianças sugerirem; vão ter crianças que escolhem o que querem aprender, e em qual ritmo; professores que não se acham donos da verdade, mas que se colocam disponíveis a aprender junto. E crianças que aprendem e lembram do que aprenderam, porque aquilo partiu delas e faz sentido para elas.
E esse processo não tem a mesma linha de chegada para todas as crianças, nem a mesma idade, nem os mesmos conteúdos. Então, não tem prova, nem nota, nem boletim, nem recuperação no fim do ano. Tem crianças que decidem, escolhem e se sentem com poder para criar a própria educação.
Querem um FAQ 3? Se joguem nos comentários - ou no facebook, emails, cartas, mensagens... ;)
Comentários
e fico me perguntando como seria no futuro.. como elas se portariam na universidade, onde nem tudo é free!
como faz? Como é a adaptacao a um mundo nao muito livre?
reflexoes, reflexoes... obrigado pelos posts!
Acho que quando a gente chega à universidade já se deu conta de que nem tudo no mundo é free, mas também já consegue lidar melhor com isso e em muitas instituições tem alguma liberdade para correr atrás dos nossos interesses.
Nath,
Na verdade eu tenho duas inquietações: 1) O quanto ainda é possível realizar experiências de liberdade dentro de uma sala de aula onde os alunos nunca passaram por isso? Pergunto isso pensando exatamente nos meus alunos da educação profissional. Me parece um tanto tranquilo que as crianças da experiência free se adaptem ao sistema tutelado da maior parte das instituições (eu mesma vivi um pouco disso), mas como fazer o caminho inverso depois de tanto tempo de um processo educativo amarrado?
2) Nath, quando você vai abrir a sua escola maravilhosa? (Queria que os filhos que eu espero ter estudassem lá)
Carolina