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Mostrando postagens de março, 2013

Free School 6 - projetos

Quem anda pela Free School pode duvidar que ali funciona uma escola, ainda mais se a sua visão de escola for aquela bem antiga. Não tem salas todas iguaizinhas, não tem sinal, não tem recreio, não tem um currículo igual pra todo mundo, não tem turmas separadinhas, não tem nota nem prova. Tem crianças dando cambalhotas, outras tocando violão e outras lendo um livro, tão concentradas que se tem a sensação de que elas estão mesmo em outro mundo. Crianças de várias idades entram e saem do parquinho, a hora que querem. Algumas sobem para ajudar a fazer o almoço, uma mais velha pode ir ler um livro para os mais novos. A escola não pára. E tem alguns projetos, ou eventos, que ajudam essa movimentação toda: * Field trips As excursões são parte importante da escola, e todo ano as turmas escolhem um lugar pra ir. A organização fica toda por conta das crianças: elas decidem onde querem ir, pesquisam sobre o lugar, calculam os gastos, pensam em formas de arrecadar dinheiro, entram em contato

Free School 5 - Assembleia

Agora sim, a Assembleia. Logo depois do almoço, na quinta-feira, estava conversando com uma professora quando o Bhawin me falou que alguém tinha chamado uma assembleia, e que se eu quisesse poderia ir lá ver. Desci na mesma hora, pensando na sorte de ter uma bem no dia que eu estava lá. A assembleia é a instância maior da escola, onde as coisas são decididas e os problemas resolvidos. A participação é obrigatória, porque o que é decidido na assembleia geralmente impacta toda a comunidade. Qualquer pessoa pode chamar uma assembleia a qualquer momento, para tratar de assuntos que dizem respeito a todos. Nesse dia, uma menina da 6a série (vamos chamar ela de Ana) chamou a assembleia porque um menino (John) da mesma idade estava batendo nela repetidamente, todos os dias. No dia em questão ele bateu e empurrou ela enquanto ela e outros amigos estavam sentados nos sofás; ela disse que os amigos estavam agitados, brincando, e nem perceberam o que aconteceu. Ela chamou a assembleia porqu

Free School 4 - um dia na escola

(sei que prometi falar da assembleia, e até comecei um post com ela. Mas a inspiração me carregou pra outros lados, e aí fui junto). Logo que cheguei e subi as escadas, fui falar com dois professores que estavam em pé, encostados nos cubbies das crianças. Olhei ao redor: era um espaço bem amplo, com mesas espalhadas. Uma mesa maior servia de buffet, e algumas crianças e adultos tomavam café da manhã: torrada, ovo mexido, frutas, leite. Me apresentei e falei que tinha mandado um email pro Bhawin, e que ia fazer uma visita. "Ah, o Bhawin vai chegar mais tarde hoje. Peraí, coloca suas coisas ali em cima que eu te mostro a escola.", me disse um outro professor, o Asyah. E entre escadas, portas e salas, fui descobrindo o que era a Free School. "Aqui é mais ou menos a sala de ciências, e também do 2o e 3o anos. A gente faz atividade de matemática também. Tá vendo esse papelão em cima da mesa, com a raposa desenhada? É pro fundraising, a gente vai fazer uma noite de film

Free School 3 - como funciona?

Pra explicar um pouco a escola, vou contar do começo: de como os pais matriculam os filhos, como é o começo do ano letivo, quais são as regras da escola, essas coisas. Se preparem pra muitos parênteses, talvez alguns desvios e grandes chances de muitas perguntas a serem respondidas em outros posts. Se você tiver interesse na Free School, vai preencher um formulário pra entrar na lista de espera deles. As crianças podem começar a partir dos 3 anos, e a escola vai até os 14 (Junior High, antes do Ensino Médio). Quando tiver uma vaga na turma que você quer {depois eu explico sobre essa história das turmas !}, eles entram em contato. Você e seu filho vão então na escola, conhecer e conversar com os professores. Se continuarem interessados, seu filho vai ter um tempo de experiência, antes da matrícula: 3 dias para as crianças da pré-escola, e 5 dias para todos os outros. Se depois desses dias, você E seu filho ainda quiserem a escola, matrícula feita e a conversa sobre quanto você pode p

Free School 2 - não-ritalina

Uma das minhas maiores curiosidades sobre a Free School era essa questão da "não-ritalina". Como era levantar essa bandeira em meio à crescente medicalização das crianças? (esse texto da Eliane Brum explica muito bem a questão). Quando eu cheguei na escola, na quinta de manhã, o professor que tinha respondido meu email (o Bhawin), não estava ainda. Mas na primeira conversa que tive com ele, perguntei: e aí? E o TDAH? E a ritalina (ou, no caso, a não-ritalina)? Como é isso com os pais, com as crianças? E, bom. A escola não tem mais a regra da "não-ritalina". Ele disse que isso não estava funcionando com os pais, e nem com as crianças. Que gerava mais ansiedade, e virou uma pressão, uma obrigatoriedade. Eles decidiram então tentar uma outra abordagem: quando chega alguma criança diagnosticada, em outra escola, com TDAH, eles conversam com os pais, explicam como eles enxergam a questão (que está relacionada a vários outros fatores, como alimentação, estímulo e o p

Free School 1 - histórias

Bom, pra começar, um pouco de histórias: a história de como eu cheguei até a Free School, e a história de como a Free School chegou onde ela está. A escola fica na cidade de Albany, NY, e existe desde 1969. Começou como homeschooling, quando o filho de sua fundadora, Mary Leue, pediu para a mãe que o ensinasse em casa, porque não gostava mesmo da escola onde estava. Logo, alguns amigos do filho se juntaram; depois, mais outros; e assim começou a Free School (tem mais história no site deles, aqui - em inglês). A escola funciona em um casarão perto do centro de Albany, na região considerada com maior diversidade econômica e racial da cidade. Deu pra perceber isso na visita, porque a segregação fica bem clara nos pontos da cidade. Mary Leue escolheu essa localização porque achava essa diversidade importante, e para garantir isso fez um sistema de mensalidade flexível, que vai de acordo com a possibilidade de cada família pagar. Também comprou imóveis na região para alugar e ter outra

Free School - começando

Passei dois dias conhecendo uma escola livre. Achei que ia sair de lá encantanda e apaixonada, mas acho que experiências intensas vão além de um simples encantamento. Saí mexida, borbulhando. Infinitas perguntas, vontades, ideias, inspirações. Coisas que adorei, coisas que não sei ainda o que achei, coisas que estranhei, coisas que surpreenderam. De verdade, achei bem melhor do que sair só encantada e apaixonada. É inquietante! Comecei a escrever sobre a visita, e ou ficava tudo muito embaralhado, ou eram apenas palavras soltas pra não esquecer algum tema. Então, seguindo o pedido de um amigo, e essa dificuldade de sistematizar, vou aproveitar esse espaço do blog, pra compartilhar o que foram esses dois dias de visita. Preparem a pipoca e vamos lá. (continua aqui )