é uma quarta-feira comum, como tantas outras e tantos dias. na hora da saída um menino de sete anos sai correndo para encontrar o pai e contar, orgulhoso, que fez um caça-palavras e achou a palavra folha. uma criança - e duas, e dez - pedem só mais cinco minutos pra brincar, e os pais suspiram, resignados que os cinco minutos vão bem virar uns quinze. uma bebê dorme no colo da mãe, depois de uma manhã cheia de frutas no pé, brincadeiras, aprendizados. algumas crianças correm pro almoço, uma pequena corre pra me dar um “abraço de urso daqueles nossos apertados”, um menino de três anos toca o sino do portão e ri. mães e pais trocam sorrisos e cumprimentos, procuram chinelos, carregam mochilas, perguntam do dia. eu fico ali no portão, olhando isso tudo com o coração cheio. é uma quarta como outra qualquer, mas que sorte incrível ver essa felicidade toda se desdobrando bem na minha frente.
{escrito em julho de 2015} bangkok tem um cheiro muito peculiar, que toda vez me intriga e me faz querer tentar descrever. não é um cheiro que se sente toda hora, e nem em todo lugar. mas todas as vezes que o cheiro vem, é inconfundível: cheiro de bangkok. é um cheiro acre, e olha que eu acho que nunca tinha usado essa palavra antes, a não ser pra falar do estado. mas é a única que me vem à cabeça quando penso nesse cheiro. é forte, é perfurante. não é um cheiro bom, já que lembra esgoto e comida estragada, mas por incrível que pareça também não é um cheiro ruim. parece impossível, mas apesar da combinação incômoda e nada perfumada, não chega a ser um fedor óbvio. talvez seja porque ele chega sem aviso, e logo passa. vem como um sopro, quase, só que intenso. às vezes acho que ele vem pra me lembrar que estou aqui, pra não me deixar enganar pelos shoppings e pelos ares cosmopolitas: eu não estou em qualquer grande cidade do mundo. eu estou em bangkok.
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