primeiro ato
sábado, sol, praia de ipanema, passa uma moça vendendo cangas e colchas lindas.
eu paro pra perguntar o preço. vamos conversando, negociando, ela me dá um super desconto. quando vejo, já estamos as duas sentadas em outras cangas, batendo papo. cida, o nome dela. começa a me contar da vida, do que faz, do que gosta. diz que é cabelereira, e eu logo me animo: "ah, sério? to querendo cortar meu cabelo, cê não corta pra mim, não?"
ela disse que sim, que cortava. é de brasília também, sobradinho, mas já está no rio há 25 anos. riso fácil, conversa boa, diz que da próxima vez que eu vier pro rio é pra ficar na casa dela. trocamos telefone, ela me dá um brinco de presente e diz que se um dia tiver uma neta, vai dar o nome de nathália, "porque toda nathália é ótima!". eu que não vou discordar, né?!
na outra semana, nos encontramos por acaso na praia de novo, como velhas amigas. mais papo, mais combinações, o encontro pro tal corte de cabelo - amanhã, hein?! dia do aniversário dela, comprei um bolinho pra gente comemorar. ela furou no primeiro dia, verdade, mas veio no segundo sem falta. de tesoura em mãos e um creme pra fazer uma hidratação - mais um presente que ela ia me dar.
conversamos, rimos um monte, ela cortou meu cabelo, fez a hidratação e ainda secou. comeu bolo, tomou café, disse que eu tinha cara de ipanema e levou o resto do bolo pra exibir na praia.
entreatos
a cida me diz, depois, que não é bom jogar nosso cabelo no lixo, não. melhor jogar no mar, dar lá pra iemanjá (ela jura que eu sou mesmo de oxum, mas vai que tem uma iemanjá na jogada?!).
eu, como boa credora de todas as fés, não me arrisco a desobedecer. e hoje, depois de um dia esquisito, resolvo ir lá fazer a inusitada oferenda.
segundo ato
quarta, bem-quase-noite, copacabana. eu parada de frente pro mar, olhando as ondas irem e virem.
praia vazia, frio, passam 3 meninos correndo na minha frente, e eu nem tchum. continuei lá, acompanhando o vai-vem das ondas, tralirá-poesia-tchururu...
chegam mais 3 meninos, agora mais perto. fiquei olhando, por um instante pensei que eles iam pedir informação. mas eles pediram minha bolsa. segurei a bolsa do lado e pedi que não, por favor. um deles olhou e falou de novo, "me dá a bolsa", enquanto quase pegava meu pescoço. eu me dobrei um pouco e dei um grito alto, assustando os meninos e chamando atenção de um casal que estava perto. os meninos saíram correndo pra um lado, eu fui pra perto do casal tremendo, e voltei pra casa com eles, que perceberam meu susto e gentilmente me acompanharam.
não me machuquei, ainda bem (depois que passou tudo que fui pensar que eles podiam estar com alguma arma, podiam ter me batido, empurrado, qualquer coisa) e nem levaram nada.
quer dizer, levaram.
levaram a sensação de segurança e conforto que eu estava tendo no rio; levaram uma parte do meu não-preconceito (e me orgulho em dizer que anos estudando diversidade funcionam - se os meninos, que podiam se encaixar em todos os esteriótipos do "medo", não tivessem pedido pela minha bolsa três vezes, eu ia estar até agora achando que eles iam me perguntar as horas). levaram minha tranquilidade e minha esperança de que ver o mar ia melhorar o dia.
mas não levaram meu teimoso otimismo, nem o ainda mais teimoso encantamento com o que pode vir da vida. é por isso que essa história é contada em dois atos; porque são dois os lados, intensos e vívidos, dessa cidade cheia de contrastes que pede urgência de todas as sensações e emoções...
sábado, sol, praia de ipanema, passa uma moça vendendo cangas e colchas lindas.
eu paro pra perguntar o preço. vamos conversando, negociando, ela me dá um super desconto. quando vejo, já estamos as duas sentadas em outras cangas, batendo papo. cida, o nome dela. começa a me contar da vida, do que faz, do que gosta. diz que é cabelereira, e eu logo me animo: "ah, sério? to querendo cortar meu cabelo, cê não corta pra mim, não?"
ela disse que sim, que cortava. é de brasília também, sobradinho, mas já está no rio há 25 anos. riso fácil, conversa boa, diz que da próxima vez que eu vier pro rio é pra ficar na casa dela. trocamos telefone, ela me dá um brinco de presente e diz que se um dia tiver uma neta, vai dar o nome de nathália, "porque toda nathália é ótima!". eu que não vou discordar, né?!
na outra semana, nos encontramos por acaso na praia de novo, como velhas amigas. mais papo, mais combinações, o encontro pro tal corte de cabelo - amanhã, hein?! dia do aniversário dela, comprei um bolinho pra gente comemorar. ela furou no primeiro dia, verdade, mas veio no segundo sem falta. de tesoura em mãos e um creme pra fazer uma hidratação - mais um presente que ela ia me dar.
conversamos, rimos um monte, ela cortou meu cabelo, fez a hidratação e ainda secou. comeu bolo, tomou café, disse que eu tinha cara de ipanema e levou o resto do bolo pra exibir na praia.
entreatos
a cida me diz, depois, que não é bom jogar nosso cabelo no lixo, não. melhor jogar no mar, dar lá pra iemanjá (ela jura que eu sou mesmo de oxum, mas vai que tem uma iemanjá na jogada?!).
eu, como boa credora de todas as fés, não me arrisco a desobedecer. e hoje, depois de um dia esquisito, resolvo ir lá fazer a inusitada oferenda.
segundo ato
quarta, bem-quase-noite, copacabana. eu parada de frente pro mar, olhando as ondas irem e virem.
praia vazia, frio, passam 3 meninos correndo na minha frente, e eu nem tchum. continuei lá, acompanhando o vai-vem das ondas, tralirá-poesia-tchururu...
chegam mais 3 meninos, agora mais perto. fiquei olhando, por um instante pensei que eles iam pedir informação. mas eles pediram minha bolsa. segurei a bolsa do lado e pedi que não, por favor. um deles olhou e falou de novo, "me dá a bolsa", enquanto quase pegava meu pescoço. eu me dobrei um pouco e dei um grito alto, assustando os meninos e chamando atenção de um casal que estava perto. os meninos saíram correndo pra um lado, eu fui pra perto do casal tremendo, e voltei pra casa com eles, que perceberam meu susto e gentilmente me acompanharam.
não me machuquei, ainda bem (depois que passou tudo que fui pensar que eles podiam estar com alguma arma, podiam ter me batido, empurrado, qualquer coisa) e nem levaram nada.
quer dizer, levaram.
levaram a sensação de segurança e conforto que eu estava tendo no rio; levaram uma parte do meu não-preconceito (e me orgulho em dizer que anos estudando diversidade funcionam - se os meninos, que podiam se encaixar em todos os esteriótipos do "medo", não tivessem pedido pela minha bolsa três vezes, eu ia estar até agora achando que eles iam me perguntar as horas). levaram minha tranquilidade e minha esperança de que ver o mar ia melhorar o dia.
mas não levaram meu teimoso otimismo, nem o ainda mais teimoso encantamento com o que pode vir da vida. é por isso que essa história é contada em dois atos; porque são dois os lados, intensos e vívidos, dessa cidade cheia de contrastes que pede urgência de todas as sensações e emoções...
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