Eu sempre fui grande defensora do direito de não se fazer nada na escola. Espalho aos quatro ventos como acho importante que as crianças tenham tempo e espaço de respirar, de olhar pela janela, de ficar à toa.
Fiquei muito surpresa, então, quando saí da Free School na primeira visita com um incômodo que não sabia bem explicar, mas que tinha a ver com um suposto limite, que eu achava que deveria ter visto, entre a liberdade e o desleixo, o descaso.
Na sexta à tarde, o clima na escola era de... nada. Umas crianças sentadas/deitadas no sofá; alguns tinham ido para um parque perto, deixando o espaço mais vazio que de costume. Outros "meio" desenhando, meio só ali, olhando. Nem tinha muita conversa na hora. Não vi os professores, e não senti ninguém engajado, interessado. E foi isso que me incomodou.
Eles não deveriam estar matando a curiosidade inata de cada criança? Não deveriam estar concentrados em alguma coisa (um jogo, um videogame, qualquer coisa)? Logo deu a hora da limpeza geral, e depois a hora de me despedir e ir embora, com uma boa estrada pela frente. Fui embora levando o incômodo comigo.
Seguimos, eu e o incômodo. Mas que raios era isso, por que eu não tinha gostado do que tinha visto? Não era esse o ócio que eu tanto falava? O que ele tinha de diferente?
Depois de algum tempo, entendi. O ócio, o nada que eu sempre defendi, era ainda um nada controlado. Alguns minutinhos (inhos mesmo) para se respirar. Para ir pro "peace corner" da sala montessori dar um tempo. Para se pendurar nas barras do trepa-trepa um pouquinho, espairecer e voltar. Para dar uma voltinha no jardim, que fosse, e depois se concentrar de novo no fantástico mundo da atividade-sem-fim.
Mas no meio do caminho tinha o nada de verdade. O nada como tempo, além dos inhos - minutinhos, pouquinho, um tantinho. O nada como escolha, e não como recreio concedido. O ser-à-toa como opção, legítima e sustentada, sem ser um problema, um rótulo, um entrave. Mas como parte normal, saudável, de um arranjo escolar que não se encaixa em quadradinhos organizados. Um respiro do final de uma semana, um momento de simplesmente estar ali, conviver sem ter um plano, uma ação, um tema. Estar do lado por estar, e lidar com isso também.
O incômodo achou que já tava bom e foi passear (para voltar depois, claro, em outros momentos). Percebi aí que pensar e ler sobre, concordar e defender uma ideia são coisas bem diferentes de vivenciar, experimentar e ver onde ficam os meus preconceitos, a minha necessidade de controle, as minhas ideias e contradições. E que experimentar outras formas de educação é um constante me encarar no espelho.
Fiquei muito surpresa, então, quando saí da Free School na primeira visita com um incômodo que não sabia bem explicar, mas que tinha a ver com um suposto limite, que eu achava que deveria ter visto, entre a liberdade e o desleixo, o descaso.
Na sexta à tarde, o clima na escola era de... nada. Umas crianças sentadas/deitadas no sofá; alguns tinham ido para um parque perto, deixando o espaço mais vazio que de costume. Outros "meio" desenhando, meio só ali, olhando. Nem tinha muita conversa na hora. Não vi os professores, e não senti ninguém engajado, interessado. E foi isso que me incomodou.
Eles não deveriam estar matando a curiosidade inata de cada criança? Não deveriam estar concentrados em alguma coisa (um jogo, um videogame, qualquer coisa)? Logo deu a hora da limpeza geral, e depois a hora de me despedir e ir embora, com uma boa estrada pela frente. Fui embora levando o incômodo comigo.
Seguimos, eu e o incômodo. Mas que raios era isso, por que eu não tinha gostado do que tinha visto? Não era esse o ócio que eu tanto falava? O que ele tinha de diferente?
Depois de algum tempo, entendi. O ócio, o nada que eu sempre defendi, era ainda um nada controlado. Alguns minutinhos (inhos mesmo) para se respirar. Para ir pro "peace corner" da sala montessori dar um tempo. Para se pendurar nas barras do trepa-trepa um pouquinho, espairecer e voltar. Para dar uma voltinha no jardim, que fosse, e depois se concentrar de novo no fantástico mundo da atividade-sem-fim.
Mas no meio do caminho tinha o nada de verdade. O nada como tempo, além dos inhos - minutinhos, pouquinho, um tantinho. O nada como escolha, e não como recreio concedido. O ser-à-toa como opção, legítima e sustentada, sem ser um problema, um rótulo, um entrave. Mas como parte normal, saudável, de um arranjo escolar que não se encaixa em quadradinhos organizados. Um respiro do final de uma semana, um momento de simplesmente estar ali, conviver sem ter um plano, uma ação, um tema. Estar do lado por estar, e lidar com isso também.
O incômodo achou que já tava bom e foi passear (para voltar depois, claro, em outros momentos). Percebi aí que pensar e ler sobre, concordar e defender uma ideia são coisas bem diferentes de vivenciar, experimentar e ver onde ficam os meus preconceitos, a minha necessidade de controle, as minhas ideias e contradições. E que experimentar outras formas de educação é um constante me encarar no espelho.
Comentários
Olha aí. O foco é voltado pra essa "hiper conectividade" que vivemos agora, as questões de FOMA e etc, mas acho interessante porque as pessoas realmente tem esse pânico do nada, do à toa. O dolce far niente, o ócio criativo e esse clube de nadismo tão aí pra provar que às vezes precisamos, mesmo, de uma pausa (de mil compassos) hihi