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a mãe

mãe de manual. era essa mãe que eu queria ser. a que faz tudo certinho, que é equilibrada e sempre sábia. eu acho que a gente vive tempos de uma maternidade muito prescritiva, com muitas respostas, ritos e fórmulas, pesquisas indicando tudo e fazendo acreditar que criar filho é uma ação-reação linear e previsível (faça isso de tal jeito que o resultado será esse. se não for é pq vc fez algo errado, ops, volta pro fim da fila). e eu gostei disso, acho. achei que era uma corda da salvação, que era tudo que eu precisava, e mergulhei fundo nisso. sim, acho que tem um contexto que pesa muito, mas também me foi cômodo decidir entre aquilo que estava dado como eficaz, certo. mais fácil e menos arriscado que achar meu próprio caminho.

hoje eu quero achar que faria muita coisa diferente. leria menos sobre maternagem e suas nuances, e mais sobre feminismo e sororidade; leria menos relatos de parto e me olharia mais no espelho; leria menos sobre picos de crescimento e mais poesias. hoje eu tô tentando esse exercício, de me achar no meio dos meus papéis, de parar de me chicotear por não ser a mãe-manual, de fazer escolhas que sejam minhas, mesmo que muito pequenas. e quero lembrar desses gestos mínimos, porque são passos pra alguma coisa, espero. a gente precisa sempre começar de algum lugar.




[escrito em 05.dezembro.2016]

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